9/07/2002

Cidade de Deus
Pena que meu contato com o Fernando Meirelles resumiu-se a poucas palavras na TV cultura quando eu trabalhava lá e ele também, dirigindo o Castelo Rá-Tim-Bum e a uma ou outra ocasião em que estive em sua produtora O2, uma delas, quando fui acertar a gravação de um comercial da Sadia onde fiz uma consumidora comprando presunto na padaria. Só uma ponta, nada que me levasse ao estrelato. Queria conhecê-lo mais intimamente para poder agora, por exemplo, dar um abraço de ser humano e dizer parabéns, obrigada. Talvez, eu pedisse desculpas por não ter visto 'Domésticas' mas aí, foi problema da minha cabeça.

Quando eu era roteirista da Fundação Roberto Marinho, junto com a Patrícia Mello, eu pensava em escrever uma novela, um filme, um seriado sobre as empregadas domésticas. A Patrícia recomendou a empregada da irmã dela, a Renata Mello, pra mim, a Marina. A Marina foi minha empregada durante muito tempo. Depois a irmã dela, a Ione, também. E depois a sobrinha dela, a Rosemeire, que até hoje está comigo, a Meire, minha querida e indispensável Meire. Mas aí, a Renata Mello, (irmã da Patrícia) que é dentista e coreógrafa e dançarina, escreveu Domésticas o espetáculo, depois o Fernando Meirelles filmou e eu, fiquei triste por pensar mais do que agir. E aí não vi nem o filme nem o espetáculo. Mas vou tentar ver um terapeuta, pelo menos. Porque é ridículo medir o mundo pela minha pessoa, minha vida, meus sentimentos e pensamentos quando há um mundo lá fora, tão mais importante do que qualquer coisa minha. É só ver o filme pra entender isso.

O filme é coisa de gênio. Mas gênio que trabalha, que pensa, que sente. Gênio competente e humano, junto com outros humanos, competentes e sensíveis. E talentosos. O filme é corajoso também. Porque, como o fotógrafo do filme, eu também tenho medo da polícia. Com polícia, a gente não pode mexer. Porque como em todo lugar, sempre tem bandido no meio. E quando o bandido é da polícia, é fogo, porque aí, é bandido com poder oficial. Você não escapa.

Na favela, no tráfico, na bandidagem, tem gente. É tudo gente. Tem cenas terríveis, tem muito humor, tem momentos que a gente tem que ficar lembrando que é só um filme pra não cair da cadeira no cinema. Mas aí a gente lembra que o filme foi feito a partir de um livro e o que livro foi feito a partir da vida real. E tudo parece mesmo com o que a gente vê na tv e na vida real. E a gente fica passado.

Uma coisa é certa. Fernando Meirelles mudou o cinema brasileiro, o cinema brasileiro vai mudar o Brasil e o Brasil é feito por nós. Por isso, nós temos que ver o filme.



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