7/16/2002

Internet, me ajudando a deixar de ser besta.Querido leitor, eu sempre fui muito bestinha, embora meu pai nunca tenha sido rico, muito pelo contrário. Os que gentilmente cederam tempo útil de suas vidas para lerem o Minha Vida Comigo, a primeira auto-biografia não-autorizada online do mundo, sabem disso.

Mas o fato de eu ser meio bestinha não veio da condição social, nem da cultural, nem de nenhuma outra, porque não tive nenhuma facilidade ou vantagem no iníco da minha carreira como habitante viva na Terra, oh, no. Veio da vontade que eu tinha de ter tudo isso e, em não tendo, virou raiva.

A gente não diz, mas fica com muita raiva de não ser o que planejou, não ter o que desejou e aí, dá-lhe procurar culpado para as não-realizações. Quando não se sai por aí culpando o pai, a mãe, Deus, a culpa passa a ser do 'azar', uma forma genérica de dizer que todo mundo é parcialmente culpado pelas nossas frustrações pessoais. Bobagem.

O que é preciso entender, embora difícil, é que isso aqui, a vida, é uma compilação de tudo um pouco, de todas as histórias que seres humanos já viveram, e que tentamos compilar em filmes, livros,histórias, música, arte. Isso aqui, é um pouquinho de Brasil, aiai, um pouquinho de Zaire, de Zâmbia, de França, de Hungria, de Venezuela, de todos os pedaços de terra que dividimos e ao qual damos nome. Mas é tudo uma grande coisa só. Ou pequena, se a gente olhar pelo prisma do cosmo.

Talvez para que a gente não saia se suicidando logo no primeiro fracasso ou frustração, temos uma coisa chamada ego, que deveria ter uma função básica de ser uma espécie de 'personal' coisa, personal trainer, personal counsellor, personal stylist, mas que acaba tendo um ataque de bichice e tenta tomar conta da vida da gente, querendo ser sempre a estrela principal, debaixo dos holofotes. Chato, esse ego, pentelho profissa.


O bom, que só vem com a razão, é que a gente vai abrindo mão de ser tão importante. É um mecanismo natural, imagino, quando percebemos que anyway, a viagem vai ter um fim, ou pelo menos, uma escala forçada para sabe-se-lá qual destino. A razão pode vir com o exercício da humildade, da consciência, do bom senso, mas senão vier, a maturidade, a idade, a velhice se encarregam disso. Quando a gente começa a experimentar limitações, desde não caber mais naquela calça 38 até não conseguir mais subir na árvore, ou pior, até não conseguir nem atravessar a rua sozinho, não há quem possa manter o ego soberano. Nâo recomendo o método. Melhor a gente ficar inteirinho até o final da vida, pra aplaudir do conjunto da obra em pé.

A Internet tem me ajudado muito a melhorar. Com a web, a diferença entre saber ou não saber quem dirigiu aquele filme, qual a capital da Letônia, ou quantos anos vive em média um orangotando, depende de meia dúzia de clics. O conhecimento não é mais, graças a Deus, privilégio, medida, nem nada. Bacana, quem tem formação, bacana. Mas quem não tem pode encontrar tudo e tirar o atraso da falta de escola, estímulo, acesso, tudo. A web dilui, divide, como na teoria dos vasos comunicantes. Os níveis vão se igualando, a tendência é chegar ao equilíbrio dinâmico. Como o mar, já que tanto se compara navegação marítima com navegação na web. O mar é um só, espalhado, sobre a Terra, mantido preso pela ação da gravidade, mas em movimento de marés, pela mesma força de gravidade, mas da atração entre a terra e a Lua. Se eu não me engano, a gravidade é isso mesmo, uma força que surge da atração entre massas. A terra é massuda, a Lua menos, mas mesmo assim, tão perto, atrai, pelo menos o grande mar. Procure na web. Tem uma coisa curiosa entre a proporção exata entre a distância Terrra-Lua e o volume da Terra e da Lua, que faz com que uma possa encobrir a figura da outra num eclipse.

No momento, estou tentando encerrar meu período de inferno astral, deixar pra lá minha mania de querer manter a grandeza dos momentos já vividos. OK, se eu tiver que viver das minhas pequenas leite-glórias do passado, vamos a ela. Depois eu construo mais alguns momentos de imenssa alegria e pronto, tá limpo. Eu me alegro por pouco, além de bestinha sou meio songa. Outro dia, fiquei na maior felicidade do mundo porque achei um cartão de crédito que eu tinha perdido. Lindo. Eu mesma perdi, eu mesma achei, com a ajuda de São Longuinho, eu mesma fiquei feliz. Olha que autonomia.

Aliás, esse é um segredinho básico que a velhice está me ensinando: a autonomia para a felicidade. Se a minha felicidade depender do dólar, dos outros me amarem, de eu ser elogiada, de receber convites de trabalho incríveis, estou fu. Isso não fica acontecendo, o tempo todo, com ninguém. Se eu depender do sucesso de crítica e público também. Ambos existem, mas passam. Então, o mais fácil é achar a felicidade no que abunda, a vida, o ar, o sol, o mar e esses temas da bossa nova.

Se sua felicidade, por exemplo, for o mar, basta morar na praia. Ou visitá-lo de vez em quando. Se sua felicidade for o mato, beleza, mato não falta no Brasil. E se sua felicidade depender apenas de você perceber que maravilha é estar vivo novamente ao acordar de manhã, parabéns! Boas notícias pra você: hoje, tem mais um dia!

E se Deus quiser, amanhã, tem outro!

Bom dia!!!

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