Viciada nos comentários
Como todo drogado, comecei pelo vício mais leve: navegar na web. Depois, influenciada por amigos, resolvi fazer meu site. Não demorou muito e eu já estava totalmente dependente: tinha que escrever todos os dias. O vício foi aumentando, fui escrevendo cada vez mais e comecei a torrar meu dinheiro, em domínios, contas na web, consumo de banda. Registrei coisas como 'fofoquinha', 'cacilda', 'rosanahermann' e 'farofa'. Cacilda chegou a ser o primeiro site a se apaixonar por outro, o weberson, mas apesar do pioneirismo, não tínhamos poder de divulgação e acoisa acabou.
Até que vieram os blogs. Fiz blogs de todos os tipos. Criei os primeiros blogs cobrindo reality shows em real time, como o blig da casa dos artistas (que foi capa do ig durante muitos dias e chegou a 7 milhões de page views), o blig do BBB1, que fez muito barulho por causa da revelação dos participantes antes da divulgação oficial, fiz blogs de todos os tipos. Passei a blogar a qualquer hora, escondido da família, dos colegas de trabalho. Qualquer motivo passou a ser motivo para blogar, estar triste, estar alegre, tudo. Aí a coisa foi se refinando, com sucessivas entradas no template, mudanças incontráveis e adições compulsivas. No útlimo estágio, instalei os comentários.
Agora, tenho que entrar no blog cada pouco, ler todos os comentários, replicar, treplicar, postar e repostar.
Se eu preciso disso? Preciso, muito. São trinta anos de teclados, trinta anos que meus dedos tamborilam, dançam e saltitam pelas letras do alfabeto, desde que aprendi a digitar na máquina de escrever.
E a cabeça, bem, essa então, não tem cura. Fica olhando, vendo, percebendo, catalogando, comentando, sempre alerta e pronta para produzir qualquer coisa em forma de palavras.
(Por falar em palavras, fiquei muito emocionada com o texto lírico de Raduan Nassar, autor de 'Lavoura Arcaica'. Nunca li nada assim, nunca vi nada parecido. Mas aqui vai um aviso, é um texto só para pessoas sensíveis, muito sensíveis.
Simplesmente, lindo. )
Agora, minha vida é assim, ler e escrever, ler e escrever. Já não assisto mais televisão e só ouço rádio no carro. Quando não estou fazendo upload estou downloadando. Minha vida é toda compartilhada. Trabalho na AllTV, que é uma Tv na internet. Na Synapsys, a conexão é dia e noite. Em casa, três linhas Speedy pra toda a família. Já botei meu marido na web, meu filho na web, minha filha na web, meu pai, de 74 anos.
Tem dias que eu acho que isso pode não ser uma coisa boa. Mas aí, eu vejo quanta gente se tornou essencial pra minha vida e eu acho que querer bem nunca, mas nunca mesmo, pode significar nenhum mal pra um ser humano...
Se eu fosse um pouco mais cara de pau, eu ía mandar agora um 'ósculo no seu miocárdio!"
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