7/13/2003

Viajar

As crianças costumam fantasiar as viagens. Em seus sonhos a viagem é muito mais interessante do que a realidade. Acho até que este mecanismo é justamente uma defesa contra a chatice da realidade. Elas fantasiam para transformar as cores pastéis em tons mais tropicais.

Algumas coisas, de fato, soam mais importantes do que são, em geral, pela fantasia que temos sobre elas. Um amigo meu, que nunca tinha ido a um desfile de modas, imaginava que o Fashion Week fosse aquele glamour que as revistas proferem.

Pois ele contou que, depois de uma hora de trânsito, mais uma hora pra estacionar o carro, chegou num lugar lotado, sentou-se e em quinze minutos, tudo tinha acabado.
As modelos entravam, passaram correndo, saíam. Fim.
Todos aplauem e vão embora.

Eu acho que é uma coisa mais ou menos assim: o povo que promove uma coisa para acesso de poucos, faz com que essa coisa pareça mais importante do que é, apenas pelo fato de ser de acesso para poucos. Todo mundo combina que vai fingir que aquilo é a coisa mais importante do mundo para deixar todo mundo com vontade. Isso valoriza o evento, quem faz o evento e quem vai ao evento.

Acho que metade das coisas que a gente inveja é só ilusão da nossa cabeça. Talvez se a gente vivesse a vida da outra pessoa, se tivesse o que ela tem, se fosse o que ela é, a gente descobrisse como é bom ser o que aquilo que somos.

Enquanto não embarco no avião, vou viajando de primeira classe na maionese Helmann's...

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