2/07/2004

DOGVILLE
Genial. Há muito tempo não via um filme tão original e ao mesmo tempo tão devastador. Eu não sabia o que esperar por isso entrei no cinema apenas com a expectativa de ver um bom filme com Nicole Kidman, ainda celebrando o fato de ter pago meia entrada. Foi então...

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Basta o filme começar para você descobrir que trata-se de algo diferente. E que o diretor não vai enganar você, pois ele avisa desde o começo como será a estrutura do filme, como se fosse um menu em DVD dizendo, 'olha, são nove capítulos e mais o prólogo'. Num cenário teatral o prólogo começa. Como a forma era muito diferente, cheguei a pensar que um plano sequência que vai até um zoom no rádio, fosse culminar uma fusão ou algo que transportasse o cenário cru para algo mais 'cinematográfico'. Enganei-me. Mas em compensação não tive mais ilusões a partir dali. E o filme começou pra valer.

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Não vou contar ou descrever o filme pois a Internet tem todos os dados que eu poderia mencionar. Como definições, opiniões, informações. Como isto é um blog e não um órgão de imprensa, vou falar das minhas sensações.

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O filme é uma porrada. A platéia fica tensa, explode em risos de alívio, manda uma mosca calar a boca caso ela bata as asas um pouco mais alto. São momentos tensos no cinema, porque ali, na tela tem alguém fazendo exatamente o que se espera, contando uma história. A história é contada de forma explícitia com uma narração absolutamente genial (John Hurt). O formato é de uma fábula moral e o conteúdo são os sentimentos humanos. É quase uma 'ilustração' intensiva para provar que a realidade é cruel, ninguém é bonzinho e não vale a pena ser ideliasta e mostrar-se frágil e benevolente se isso não for genuíno.

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Todo mundo se identifica com alguma situação porque não há ninguém em platéia alguma que já não tenha se sentido ameaçado, injustiçado, traído, escravizado. Não há ninguém que não tenha sofrido agressões sem merecê-las, que não tenha se subjugado a idiotas ou explorado por invejosos. Naquela pequena célula social há amostras de todos os sentimentos humanos, especialmente, os piores. O filme deixa uma pergunta no ar, no final, uma pergunta sobre o poder.

???
E se a gente tivesse todo o poder, num instante de ódio? E se a gente pudesse de verdade destruir, matar, acabar com alguém que está ali ao seu lado e vem promovendo os maiores sofrimentos e injustiças em você? E se você pudesse clicar uma tecla no seu teclado, uma só, e destruir aquela pessoa anônima que está ali xingando você por inveja, que está ali incomodando você por mero prazer perverso, você...apertaria? Se você pudesse dar um Del, ou um Ctrl+F4, e apagar, fechar, uma pessoa qualquer que está injustamente ofendendo ou explorando você? Claro que pensando bem, você não o faria, mas...naquele momento? Será que não, se tivesse esse poder? Acabei de fechar um blog por isso. O filme foi muito didático para mim.

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Sim, eu recomendo Dogville para todo mundo. Sim, o filme é diferente. Sim, deve ter gente que não gosta. Sim, eu respeito as opiniões. Não, eu não vou julgar ninguém porque amou ou odiou o filme. Sim, eu achei o diretor genial porque ele também escreveu o filme. Sim, depois de algo tão profundo, maravilhoso, eu preciso de antídoto trash para voltar ao normal. Por isso, uma da manhã tem chat ao vivo, em tempo real, acompanhando o programa Alegria,Alegria na RedeTV. A sala está aberta até agora: uol, tema livre, salas abertas por assinantes, tema livre, alegriaalegria.


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