Pagando pra ver
Na passagem de 2002 para 2003, mais ou menos de dezembro a janeiro deste ano, um certo alguém de nick ChicoPicadinho, acreditou que a web permitisso o anonimato e passou dias e dias e mais dias enchendo o saco desta que vos escreve e de mais alguns queridos leitores.
Fui engolindo, ele e mais outros que me perturbavam, tentando não dar bola e não gastar meu tempo com isso.
Porém, como acontece no caso de algumas doenças, a coisa não melhorou sozinha. Depois que juntei 75 comentários da mesma pessoa, que já estava viciada no blog, e comecei a receber outras manifestações nefastas, resolvi tomar uma medida séria e experimentar a lei.
Contratei um escritório de advocacia para quebrar o sigilo de alguns provedores e encontrar esses anônimos todos, os que tinha um nick, os que tinham vários e até os que acham que o nome de registro de uma pessoa se chama 'nickname'. (deve ser por isso que o Enéas berra tanto 'meu nome é Enéas'. Se nome e nickname fossem a mesma coisa, ele gritaria 'Meu Nick é Enéas!')
Depois de um tempo, as respostas. Os casos patológicos eu deixei pra lá. As pessoas que se tocam fácil, perceberam na hora o que estava acontecendo e maneiraram no jeito.
Assim, continuei pagando peritos, despesas e advogados apenas no caso de ChicoPicadinho. Até que chegou o relatório, com todos os dados da pessoa. Nome, endereço, atividade, antecedentes. Homem, solteiro, desempregado, morando com os pais, 35 anos, nenhum processo anterior na justiça. Minha advogada ligou pra ele (que deve estar lendo isso agora). Pedi que ele me mandasse um email. Recebi o email. E liguei pra ele.
Não é fácil você falar com alguém que durante muito tempo tratou você mal por escrito, ublicamente, na frente de todo mundo. Mas já que eu gastei muito dinheiro, pelo menos, queria aprender alguma coisa sobre o ser humano. Por quê uma pessoa gasta seu tempo útil de vida para atazanar uma outra? Qual a vantagem? O que eu fiz? O que ela sente por mim?
Primeira descoberta: a pessoa que gasta seu tempo de vida para atrasar a vida do outro, não vê seu tempo como vida útil, mas inútil. É alguém que não está feliz, não está equilibrado e, em não achando validade para sua vida, desiste de tentar ser feliz e parte para fazer os outros infelizes. Gente feliz, segura, de bem com a vida, vida a sua própria vida e, quando interage com outra vida, é para melhorá-la.
Segunda descoberta: todo mundo tem medo da justiça e a palavra processo mata lentamente. Primeiro elas tentam negar tudo, depois admitem,depois acham que por admitirem já são heróis perdoáveis e nobres. Depois aceitam qualquer coisa, até a exposição e a retratação, para não serem processadas e, especialmente, não terem que pagar nada de volta. Todo mundo é assim.
ChicoPicadinho ficou repetindo que não tinha dinheiro para pagar o que gastei. Que não lembrava do que escreveu. Que não tem nenhum motivo para me atacar. Que não quis meu mal. Que só me conhece da tv. Que há muito tempo não usa mais meu blog. Chamou janeiro e fevereiro de muito tempo atrás. Que ele não é má pessoa. Que todo mundo faz isso na web. Que tem gente muito pior. Que isso é comum.
Tive que berrar e insistir para convencê-lo de que se eu gastei muto dinheiro para ter o direito de falar com ele. E disse que o fato de alguma coisa ser comum não faz dela uma coisa normal. Pedofilia é comum, mas não é normal e é crime. Assassinatos acontecem, latrocínios acontecem, são comuns, mas longe de serem normais.
O que ele fez é crime, é comum na rede, mas definitivamente, não é normal.
Fiz com que ele prometesse que não vai mais fazer isso com ninguém.
Tentei fazer com que ele compreendesse que causa e efeito não é uma reação em linha reta, mas um ciclo. Não é que ele ficou me enchendo porque está desempregado, talvez a vida não o esteja ajudando também porque ele é uma pessoa que perde tempo importunando as outras. E anonimamente.
Ele queria ter sido jornalista e, por isso, adora dar palpites em grandes sites e revistas, como a Veja. Lá, ele assina o nome completo.
Ele diz que não sabe porque me elegeu como alvo de sua encheção. Talvez, diz ele, porque ele 'se identifica comigo'. Se acha engraçado como eu. Acho que ele queria ser eu. Tem louco pra tudo.
Por fim, decidi não processá-lo, não fazer nada, absolutamente nada. Disse a ele que, se Deus me deu uma vida que permite que eu pague tão caro para aprender uma lição, não vou contrariar a vontade d'Ele e tirar de quem não tem. Eu pago. A idéia foi minha de achá-lo.Achei. E pagando, com um bom escritório especializado em Internet, você acha quem você quiser. E tem a lei do seu lado para pedir indenização, ressarcimento, tudo.
Eu não quis usar a lei. Nem sempre usar a justiça é fazer justiça.
Espero, sinceramente, que ele não apareça mais aqui como ChicoPicadinho. E se, um dia, tiver a coragem de ser apenas ele, e assinar seu verdadeiro nome, aceitarei-o aqui com prazer. Porque só eu saberei que ele é ele. Seu nome está preservado. Não acredito em vingança e não tenho a intenção de fazer mal a ninguém. Não sou perfeita, ninguém é, sou humana, como todos. Também erro, também faço coisa idiotas, também ofendo. Eu escrevo coisas estúpidas de vez em quando e esqueço que vou magoar um ser humano. Um ser humano outro dia ligou pra mim dizendo isso e eu fiquei muito arrependida. Sofri muito. E compreendi o quanto todo mundo erra.
Antes de desligar, disse a ele que antes de tomar qualquer atitude a gente deveria sempre perguntar a si mesmo: "Isso faz o mundo melhor?". Se não fizer o mundo melhor, se não fizer ninguém melhor, não vale a pena ser feito. Paguei caro, mas tomei a decisão acertada. Me senti corajosa. E ele, aliviado.
O mundo, ficou um pouco melhor.
Só falta eu me lembrar dessa lição, todos os dias da minha vida...
Ilustração
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