11/22/2003

Cada um dá o que tem
Fiquei emocionada ao ver a foto na capa do UOL, com cerca de cinco mil pessoas em passeata em São Paulo, numa manifestação pela paz. Olhei e pensei, que naquele mesmo momento, enquanto essas pessoas pedem paz, nos mais diferentes pontos diferentes do mundo, há gente sofrendo de fome, gente sendo torturada, gente em cativeiro, gente sofrendo atentados. Gente covardemente agredindo outros seres humanos, com armas que ferem e matam, armas que vão de palavras a granadas, em todo lugar.

Pensei que em diferentes escalas essas pessoas também somos nós. Nós também agredimos, brigamos,ferimos, maldizemos, muita vezes, sem capacidade ou energia, sem amor ou coragem para interromper o processo e mudar os rumos da convivência humana.
Hoje, entre sentimentos dos mais variados, num sábado em família cheio de crianças e cachorrinhos, entrei no blog e vi um daqueles comentários destrutivos. Não parei para ler direito, nem gastei tempo como costumo fazer com investigações contaminadas.

Não fiz nada. Nem me dei o trabalho de apagá-lo, porque com o tempo, eles irão para os arquivos da desimportância.
Por um milagre, fruto, talvez, da influência do livro que estou lendo, não senti raiva da pessoa, nem vontade de responder, devolver com a mesma moeda, nada.
Não porque aprovo ou concordo com sua atitude, mas porque me reconheci sendo assim agressiva com palavras em momentos de insatisfação e infelicidade pessoal, em geral, por inseguranças físicas. Quando a gente não está feliz com o corpo, quando a gente não tem prazer sexual, quando a gente se sente incapaz, quando a gente se sente infeliz com a vida que tem, é comum agredir as pessoas que invejamos, as que parecem ter mais sorte que nós, as que vemos de baixo de cima. Se a gente se sente feia e gorda, vai ofender as pessoas por sua beleza. Se a gente se sente pobre e burra vai ofender as pessoas que acreditamos ricos e cultos, se estamos infelizes com nosso trabalho, se somos incompetentes e solitários, vamos agredir as pessoas que parecem ter sucesso, as que têm muitos amigos e admiradores. Eu não tinha percebido isso mas muita gente se incomoda não com a forma ou conteúdo deste blog, nem mesmo comigo, mas com o número de visitantes que ele tem. Não é louco isso? Talvez eu devesse tirar o contador do ar...

Mas uma coisa boa aconteceu: pela primeira vez, diante de uma agressão gratuita, senti uma estranha ... compaixão.

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