11/28/2002

Cria fama e deita na cama, não necessariamente nesta ordem

Sempre me condenaram por rir das minhas próprias piadas e gostar do próprio texto. Deve ser mesmo uma atitude cabotina e janotinha, mas nunca condenei nenhum cozinheiro por almoçar no próprio restaurante nem acho ruim que o alfaiate vista o paletó que ele próprio confeccionou. Porém é verdade, quem me critica tem sua razão. É estranho um dentista que trata seu próprio canal ou o cirurgião que faz transplante em si mesmo. Mas eu gosto dessa frase título que escrevi e, quando dá vontade, repito-a.

Ela só está aí acima porque estamos vivendo um momento na comunicação onde ela é totalmente verdadeira.
Criar fama hoje é alçar vôo até o ponto mais alto da pirâmide. Não importa se você chega lá em cima usando uma vara de salto, um salto de vara, só o saltou ou só a vara. Subir de escada, heliicóptero, balão, asa delta também servem, no sentido biquini e esporte aéreo. Vale mais quem está mais alto e pronto.
O valor aqui não é o humano, espiritual, é o de mercado mesmo. Cachê pra foto, presença em festa, convite para apresentar programa, etc.
Evidentemente, não importan o nível ou grau de competência, basta chegar em cima e depois, contratar um monte de gente para mantê-lo no Olimpo da fama, nutrindo a imprensa bege de notinhas.

Imprensa bege? É, a minha versão pop da imprensa marrom. A imprensa bege é assim, meio que supostamente combina com tudo mas também não serve muito pra nada.
Muitos dos queridos leitores postam nos comments notícias que aparentemente não têm nenhuma relevância. Outros jornalistas, escritores, discutem reportagens que mostram o telefone onde a assassina fez a ligação, o capacho onde a vítima pisou na hora de entrar e só não entrevistam a maçaneta onde a testemunha colocou a mão por falta de agenda da maçaneta.

Fato é que os sites e colunas que dão esse tipo de notícia da imprensa bege crescem a olhoa vistos. Deve ser porque muita gente gosta de consumir a notícia bege. Senão, como explicar essa profusão de notinhas na capa dos sites informando que a cantora trocou os pneus do carro, que a atriz acaba de estrear sua nova espreguiçadeira de praia, que o apresentador está planejando comprar um periquito para seu cachorro ou que o astro de televisão acaba de trocar o carpete do escritório.

Não sei se é falta de ter o que fazer, se é excesso de tempo, se a vida de cada um não tem graça e todo mundo se preocupa mais com a vida alheia. É provável que eu esteja apenas ficando velha e ranzinza e comigo, envelhecem meus leitores e amigos. Só sei que eu nunca vi tanta notícia irrelevante quanto agora.

Pode também ser por causa da segunda interpretação do título, porque muita gente que deitou na cama e criou fama ganhou espaço de comunicação. Sexo sempre foi moeda de troca desde que o mundo é mundo. E, convenhamos, ser bom de cama é um talento e uma mulher que tenha uma periquita eloquente talvez seja uma ótima comunicadora!

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