11/27/2002

O primeiro jornal...
Eu adorava apresentar o FalaBrasil ao vivo, todas as manhãs, na primeira fase do programa, quando ele não era um programa 'do' jornalismo, mas um programa de variedades com notícias comentadas. Tínhamos a liberdade de cantar, dançar, brincar e existir, viver, sentir e era exatamente isso que nos colocava à frente de todos, com toda a audiência do público que, enfim, encontrava uma turma de pessoas animadas,prontas para começar o dia.

Minha música predileta era a da Elis Regina, o primeiro jornal, que usávamos na abertura de algumas 'segundas-feiras' de manhã, como diz a letra, no singular. Era uma alegria que durava até ler o primeiro jornal. Como hoje aconteceu comigo.

Leio a Folha no café da manhã desde que me entendo por gente. Sabe, apesar da minha avançada idade a Folha é mais velha que eu. Depois, dou uma olhada no Estadão e saio do papel para todas as outras fontes online.

Agora, na capa do UOL, depois de 2 dias, vejo que o video horroroso da senhora de 92 anos que era torturada por sua acompanhante está entre as manchetes. Como a primeira exibição desta notícia que me fez tão mal aconteceu na3a.feira, tarde da noite, no jornal da Globo, demorou para chegar até a grande massa de leitores. Acho que temos sim, que discutir essas relações de profissoionais que 'cuidame ' de pessoas. Nossa única chance é usar todos os crimes desumanos para que, discutindo-os, possamos nos tornar mais humanos.

A sensação que eu tenho, pessoalmente, é que a cada dia o mundo se desumaniza. Criamos uma socieade desumanizadora. Assim, a gente precisa se esforçar para reconquistar a condição que deveria ser natural para nós, criaturas de Deus.

Vendo as manchetes, vejo que os cadernos que falam do cotidiano parecem novelas que, ao invés de estarem divididas por horários (a novela das 6, das 8, etc.) estão divididas pelas naturezas dos seus criminosos: a novela da Vilma, a novela da Suzane, a novela do Gustavo. E, como a mídia também tem suas ondas de moda, dependendo do tipo de assunto que o povo procura, a folha dá destaque a mais uma condição bárbara desse Brasil imenso: foram encontradas, no Pará, duas crianças que viviam trancadas num quarto escuro e imundo, há quatro anos. Abandonadas pela mãe, eram criadas por um avô e um tio maluco. Elas mal falam, nunca brincaram nem foram à escola. Ô mundo, ô vida. Que dificuldade que é manter a fé nos dogmas nesse momento. Como acreditar na onipresença divina quando tudo nos leva a crer que Deus nem passou por esse cubículo onde esses inocentes eram enjaulados. Talvez, seja só um erro meu. Deus estava presente na hora em que foram encontradas, Deus é o fato delas estarem vivas ainda.

Dos crimes e desgraças, pulo para a Comdex, com todas as novidades do circo da tecnologia onde tudo parece mágica e certos avanços chegam a ser, palhaçada. Vi até a cadeira que o Tom Taborda passou pra gente esta semana, não a Snowcrash, a outra que parece uma cadeira de dentista.

Um pouco de Lula, um pouco de televisão, uma crítica ou outra sobre os games da tv e o jornal acabou. É hora de produzir. Banho, roupa, carro e lá vou eu pra mais um dia deste interminável ano. Cansada, atrapalhada, mas feliz, vou tentando fazer aquelas três coisas mais difíceis para um ser humano: deixar o passado para trás, viver o dia de hoje da melhor forma possível e construir um futuro melhor para todos nós.

O tempo passa, a vida passa, a caravana passa, o ferro elétrico passa e até a uva passa.
Agora, descobri que a cara...paça.




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