11/09/2002

Sabadócio

(Dolce Far Niente -John William Godward-904-51 x 76 cm (20" x 30"))

Lembrei de um termo que li uma vez, na introdução de um dicionário de termos eróticos que tenho em casa e que, neste momento em que o procuro pelas prateleiras do escritório, brinca de esconde-esconde comigo.

Na Internet porém, encontro tudo: o biblioófilo Plinio Doyle (aqui em foto de Leandro Pimentel, para a Isto É) , promovia reuniões literárias com nomes de peso como Carlos Drummond de Andrade , Manuel Bandeira,, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Afonso Arinos, José Lins do Rego, Pedro Nava, Otto Lara Resende, Raul Bopp. Você pode ler a relação completa dos saraus literários, os Sabadoyles, nesta bela reportagem de Leneide Duarte. Leia também esta matéria de Norma Couri, para o Estado.

Tudo isso para introduzir o meu conceito de sábado, o sabadócio. Não faço saraus literários, não reúno amigos. Apenas desfruto do merecido ócio do sábado, sanduichado por uma semana recheada de compromissos das 7 da manhã às 11 da noite, e três horas ao vivo na AllTV no domingo à noite. Sem contar trabalhos de hábito, como escrever, que não dão folga nunca. Veja, estou escrevendo e hoje é sábado. Se eu praticasse pra valer o judaísmo não poderia estar fazendo isso agora. Nem se eu fosse adventista.

Assim, hoje, pela primeira vez em anos, graças ao horário de verão, dei-me ao luxo de finalmente levantar da cama às 11:25. Acordei meu filho quase meio dia. Tomamos café juntos. Falamos do crime do Campo Belo. Acho que boa parte dos pais em todo o Brasil estão fazendo a mesma coisa.

É preciso amar. E demonstrar esse amor. É preciso ser verdadeiro e lutar. É preciso acreditar que embora este crime horrível tenha acontecido, ele é a exceção e não a regra.

E que o mundo que a cada dia construímos assim que acordamos, é o mundo do afeto, da liberdade, da democracia, da igualdade, da correção e da justiça. Onde loucos são tratados, criminosos são isolados da sociedade para protegê-la, oportunistas são derrotados em suas aventuras para lucro fácil e os que são bons e justos podem levar uma vida pacífica. E se isso não é possível na realidade, temos que ter isso como modelo teórico, ainda que só uma meta a ser alcançada.

Estou começando o dia na segunda metade.
Sem culpa.
Viva o sabadócio.


Nenhum comentário: