1/11/2003

Empacotando

Por algum motivo que nem a entropia ou qualquer outro princípio termodinâmico pode explicar, a volta da viagem tem sempre muito mais malas do que a gente acredita ter trazido quando veio. Nada cabe, nem a calça jeans aposentada durante os dias de bermuda e chinelo.
Entre decisões de levar ou não conchichas catadas na areia e o que fazer com os restos mortais que sobraram na geladeira, percebemos sempre que carregamos mais peso do que precisamos em todos os sentidos.
Tem roupa que vem e volta, sem ter sido usada. Só veio fazer estágio de amarrotamento e exposição à maresia. Tem aquele livro que ninguém leu, máquina fotográfica que ninguém usou e, claro, a infalível câmera de filmar que nem saiu da maleta.
Consciente ou inconscientemente, todos nós sabemos a chatice que é o dono da câmera ficar dizendo, 'oha pra cá', 'dá tchau pra camera', 'fala alguma coisa' ou, com o dia e horario registrados na tela, ficar falando 'hoje é dia tal, tal hora e estamos todos aqui', isso mostrando exatamente, o aqui.
Quase todo mundo que pega uma câmera na mão, fica, imediatamente, sem nenhuma idéia na cabeça e muita besteira na boca. É o festival de obviedades, que mostra e fala a mesma coisa. Filma o mar e diz, aqui é o mar. Filma a areia e diz, aqui é a areia.
Hora de voltar, no fundo, é sempre bom.
Fiquei emocionada, outro dia, vendo um documentário com o Amyr Klink, no GNT, voltando pra casa depois de uma de suas longas viagens. Ele, de barco, vendo sua mulher com as filhas no colo, chorando ao reencontrá-lo. E na narração dele, lendo seu livro , descrevendo a cena e dizendo...na areia, Marina, com os braços cheios de menina...
Ele falava que a alegria de viajar é ter para onde voltar.
Estou voltando. Do mar, ao lar.
Até mais tarde.


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