Dinheiro e trabalho
Eu não sei ganhar dinheiro, só sei produzir trabalho. Se um dia eu conseguir descobrir uma maneira de fazer com que o primeiro seja uma consequência direta do segundo, ficarei rica.
Vejo o trabalho num sentido amplo. O blog é trabalho. Trabalho não remunerado mas ainda assim, trabalho. Trabalho sim, porque cria onde não havia, porque tem produção. Produzo incontáveis Kb diariamente. É só olhar o arquivo e ver o volume de produção. Não ganho dinheiro com isso, mas o dinheiro é uma medida de remuneração específica. O contador poderia ser uma outra forma de recompensa, não-monetária, que de uma certa forma é como uma conta bancária porque mostra as pessoas que aqui depositam seu tempo.
Tenho dificuldade em misturar esse tipo de recompensa com dinheiro pra valer. Não acho que seja uma traição, ou que eu estaria usando as pessoas já que a audiência é sempre um índice de medida para investimento comercial. Mais gente, mais consumidores.
Assim, de vez em quando, recebo propostas de trocas de banners, porque as pessoas percebem que muita gente bacana bem aqui. Nunca consigo aceitar e, quando aceito, é de graça.
Acho que minha vaidade e necessidade de reconhecimento superam a vontade de ficar rica. Tanto assim que, não coloquei no ar um banner que poderia me trazer lucros honestos (pelas visitas que daqui eu gerasse em um site muito legal, uma gravadora) mas vou colocar no ar um banner de um site que escolheu este blog como um dos blogs do mês.
Na verdade, até entendo o que acontece comigo, essa coisa de não ter tesão pelo dinheiro. Não preciso de muito dinheiro e tenho tudo o que preciso. Claro que eu poderia viajar mais, conhecer todo o mundo, dar mais conforto e futuro a meus filhos, mas eu acho que já sou uma privilegiada, socialmente falando, não sou ambiciosa. E depois, acho que boa parte do dinheiro que a gente gasta é com ilusões de marketing. Veja o caso das marcas. Um amigo meu, descobriu um outlet da Daslu e comprou uma calça de 700 reais por 70. Verdadeira, é da Daslu mesmo. Uma jaquela Gucci, de couro (ele não comprou), de 8 mil por 800 reais. Acertou, tudo custa 10%. Ou você acha que um jeans de mil reais vale mesmo a matéria prima e a mão de obra de mil reais? Claro que não. A 'mais valia' (oi, marx, tudo bem?) é para sustentar a vida nababesca das marcas e seus guardiões.
Ontem mesmo vi uma matéria genial no GNT Fashion, muito bacana, mas chocante. Até onde o marketing produz ilusão. Muitas griffes famosas produzem calças e roupas com edição limitada. Você vê uma calça Adidas que, na etiqueta traz a inscrição "72/150". Isso mesmo, é a calça no. 72 de uma tiragem de 150. A vendedora diz, orgulhosa:
-"Você terá a calça 72, sabendo que só 150 pessoas em todo o mundo terão uma calça como a sua."
Ah!!! Agora sim! Todos os problemas estarão resolvidos! É bem o caso de perguntar "e daí?", mas pra pessoa que comprou essa idéia, isso é tudo. Ela comprou o argumento, o direito de dizer 'só 150 pessoas em tooooodo o mundo (e se só a terra tem vida, ela poderá ampliar para em toooodoo universo) têm uma calça como a minha'. Isso supre muitas demandas do ego. Só 150 pessoas são cool como eu, modernas e legais como eu. Ou, eu pertenço a uma tribo seletas de pessoas que podem pagar 1200 reais num jeans, etc. etc.
Não nos cabe julgar se a pessoa é trouxa, esperta, nada, mas vale a percepção de que tudo é ilusão de marketing. Ilusão da marca. A marca hoje é o sobrenome de antigamente. A pessoa era 'de família', tinha um sobrenome a ostentar. Hoje, ela compra o sobrenome, a marca da roupa, como se compra um título de nobreza.
É isso, as marcas são títulos de nobreza. E no fundo, todo ego busca ser importante. Tem gente que não é capaz de sentir importante com uma calça sem marca e uma camisa de costureira.
Claro, tem marcas que realmente dão um peso. Se eu tomar um banho agora e me vestir de Prada dos pés à cabeça, tendo noção do preço que tudo custou, provavelmente vou me comportar diferente. Nâo vou sentar no chão. Mas aí, é pior, mais imbecil ainda, porque pra comprar Prada você tem que ter tanto dinheiro a ponto de portar-se de forma displicente com a roupa e não como uma criancinha de vestido engomado na festa que vai levar bronca da mãe se derramar guaraná na roupa.
Eu acho isso tudo muito louco, talvez porque eu trabalhe com marketing, vendo a ilusão do lado de cá do balcão. Uma coisa é certa:boa parte das pessoas iludidas movem o mundo do comércio. Elas compram sonhos, desejos, alívio. Se forem felizes assim, ótimo. Que bom para a economia. Vão gerar mais trabalho.
O que nos leva ao começo do post. Sim, estou trabalhando. E agora, vou sair para caminhar e fazer algumas fotos de trabalho, ilustrações de um projeto. Vou me divertir? Vou. Vou andar, queimar calorias e cuidar da saúde enquanto trabalho? Vou. Vou me sentir culpada? De forma alguma. Trabalho não é sofrimento, é trnsformação de energia. É converter sua energia pessoal, potencial, vital em energia cinética, em movimento que muda o mundo. Trabalho é produção.
Mesmo que a gente produza apenas um sorriso, uma conversa, um ensinamento, uma interação.
Bom dia. E bom trabalho.
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