Tolerância

Tive uma lição de compreensão com os erros alheios. Já é difícil a gente conviver com os próprios erros, imagine os erros alheios. Imagine os erros alheios que, de alguma forma, acabam por nos prejudicar. É aí que entra a diferença entre o dolo e a culpa. Aprendi isso na mídia: homicídio doloso e culposo, por exemplo. Doloso é que tem intenção, a pessoa quis matar e culposo, é quando a pessoa é responsável pela morte mesmo não tendo sido intencional.
Pois eu presenciei um gesto culposo mas não doloso na academia, na hora do almoço:
- uma mulher loira, de meia idade, não conseguia abrir o cadeado do seu armário e pediu ajuda para uma funcionária. A funcionária testava a chave e também não conseguia. A mulher então conjecturou:
- Será que eu tô tão louca que não tô reconhecendo o armário? Mas é esse cadeado eu tenho certeza!
E assim, a funcionária foi buscar aquele alicate gigante e créqui! cortou o cadeado.
E, claro, o armário não era o dela.
Diante de pertences estranhos ela ficou desesperada.
Mas agiu corretamente. Foi comprar outro cadeado na lojinha da academia enquanto eu, dando meus pitacos, sugeria à funcionária que esperasse a dona do armário chegar para receber a nova chave.
Uma moça a meu lado presenciou tudo mas compreendeu. Disse que a mulher errou, mas que todo mundo erra. E que ela consertou o erro pois foi logo providenciar outro cadeado. Que se prontificou a esperar a dona do armário e entregar a chave, explicando-se.
De fato, deu tudo certo.
Nada de ruim aconteceu. Um cadeado novo, um puoco diferente, não é nenhum desastre.
E, compreender o erro não intencional de outra pessoa, perdoá-la e achar graça com ela é uma forma leve de perdoar todos os erros humanos.
Fiz só meia hora de esteira, comi um pouquinho e voltei correndo para uma reunião. Aliás, o plano da academia venceu e não vou mais voltar lá. Vou achar outra solução para os exercícios.
Mas a lição, ficou.
Ano novo, coração liberado.
E tudo, por causa de um cadeado.
Acho que a chave, como sempre, é o amor.

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