Feira da Fruta
Qual foi a última vez que você comeu um abacate? Ou viu,comprou, pensou, pegou um abacate? A menos que você more no interior ou tenha um abacateiro em casa, talvez um bom tempo tenha se passado entre seu último contato com a fruta e os dias atuais, em que a indústria produz coisas como chiclete de melão e iogurte sabor mamão papaya com licor de cassis.
O abacate caiu em desuso, saiu de moda, como as calças de cintura alta, o suspensório e o chapéu. Envelheceu, não cabe mais no mundo moderno, provavelmente por causa de seu conteúdo gorduroso num mundo movido pela idéia de baixas colorias e 0% de gordura.
Os restaurantes não oferecem abacate como sobremesa, as fábricas não fazem sorvete desse sabor, não há doce, bolo, bala ou chiclete de abacate, nada. Simplesmente não se toca no assunto, é tabú. Você pode falar de coisas como pedolifia, canibalismo, mas abacate, jamais. A impressão que dá é que todo mundo combinou de fingir que o abacate não existe, com sua casca que vai do verde ao negro, sua massa doce e pastosa, deliciosa com açúcar e limão e aquele caroço que sempre deu a impressão de ser o maior caroço de todas as frutas.
As piadas sobre engolir caroço de abacate desapareceram. Até a cor, verde-abacate, não existe mais. A indústria da moda hoje tem dezenas de tonalidades para o branco, o bege com suas nuances de trigo a areia, mas verde-abacate, morreu.
A última informação cultural do abacate foi a música do Gil, Abacateiro, que eu me lembre. Depois, nunca mais.
Minha avó, que também já caiu em desuso e sobre a qual ninguém mais fala, tinha um imenso abacateiro em casa. Quando amadureciam viravam uma praga. Ninguém sabia o que fazer com tanta fruta. Eram sacolas, caixas, bacias, doadas para quem quer que aparecesse ou batesse à porta. Talvez o abacate tenha sido uma extravagância de Deus, assim como a jaca.
As jaqueiras, aliás, também não fazem muito sucesso fora do litoral. Mulher grávida na capital que tiver desejo de comer jaca vai ter que mandar o marido pra praia pra voltar com uma.A jaca, aliás, é uma espécie de dinossauro das frutas, muito primitiva, quem sabe entre em extinção na próxima colisão com um asteróide.
Fato é que o mundo não para nunca de mudar, em muitos sentidos mas quem mais muda o mundo, somos nós, os seres humanos. Nós, que comemos pouca maçã, que não sabemos a diferença entre banana nanica, prata, da terra ou ouro. Nós, humanos moderno, falamos muito de sexo mas não trepamos mais na mangueira. Tomamos muita vitamina C mas não catamos mais laranja madura no pé. Tem criança moderna que nunca viu um frango passeando crú, que acha que queijo nasce em bandejinha de isopor no supermercado. Estamos cada vez mais distantes da natureza, o que nos distancia não só do abacate mas de nossa essência humana.
Acho triste. Eu gostava de comer abacate, como sobremesa ou na salada com vinagre, limão e salsinha. Adorava pegar o caroço, enfiar dois palitos e equilibrá-lo num copo baixo com água molhando-se o fundo, para ver brotar a imensa semente, gerando uma nova árvore.
Quer saber, vou prantar um pé de abacate. Mesmo que eu não esteja viva pra subir no seu último galho. Tem certas coisas que a gente deve preservar na vida. E a frondosa sombra de um abacateiro é uma delas.
Bom dia.
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