1/19/2004

CLASSE

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Saí para comprar presente de casamento para meu amigo (e sócio) que vai casar daqui a algumas semanas. A figurinha acima, é uma sopeira, só pra avisar. Fiz uma programação mental e decidi que seria hoje, o dia da compra. E assim, foi. Ou melhor, fui.

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Sempre achei as mulheres novaiorquinas muito chiques. Na verdade, mulher novaiorquina eu só conheço de três lugares, dos filmes, da minha cabeça e do que vi de nova york. Mas sei que é hábito da cidade, andar de tênis e levar outro sapato para usar durante o trabalho. Copiei. Vim de sandália plataforma, alta e trouxe tênis e meias brancas para andar no almoço. Na hora de sair, fui até a garagem, deixei as sandálias e a jaqueta, calcei o tênis com meia e saí andando. Só andando, tá?

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Andar por entre os carros, ônibus, fumaça e cheiro de cidade grande não é exatamente muito agradável, mas a caminhada vale pelo exercício. Ida e volta foram 45 minutos, cronometrados. Paranóicos e obsessivos precisam andar equipados. Não faço esporte sem o cronômetro. Preciso saber quanto tempo investi em mim pra debitar no banco da culpa. Cheguei na loja Roberto Simões e, a vendedora me reconheceu.

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Você não é aquela repórter? Sim, sou. Aquela repórter, aquela apresentadora, aquela moça rouca, aquela. Não tinha idéia de que tanta gente se lembrasse de mim, vive me acontecendo. E olha que saí da tv há algum tempo. Oficialmente, em julho de 2000, Extra oficialmente, no ano passado, em agosto. Mas acho que é a voz. É sempre a voz. Como disse uma garota bonitinha mas desavisada : "ah! Eu sabia que era você pela voz! Sua voz é .. irreconhecível!!".

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Comprei o presente, atravessei a rua e fui realizar um desejo gastronômico. Não tive desejos durante a gravidez, nenhuma das duas, mas acho que certos desejos não aceitam genéricos. Um dia, no Empório Santa Maria, uma espécie de mercado de iguarias em São Paulo, vi um cuscuz de camarão gigante, lindíssimo. Nâo comprei. Não sei se gosto de cuscuz. E tenho alergia a camarão, às vezes (quase morri em nova york intoxicada por camarão. morrer em nova york é fino, mas não presta. prefiro viver em são paulo mesmo). Mas a combinação de cuscuz, camarão, as cores, o ovo cozido me pegou. Pois hoje, seis meses depois de ver o prato, entrei no mercado e quando avistei o bicho, caí em tentação. Sentei, pedi e comi. Uma delícia. Um pequeno, muito pequeno cuscuz de camarão.

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A farinha de milho deve ter sido moída por monges albinos da costa do marfim. O ovo foi da galinha dos ovos de ouro, tenho certeza. O camarão, bem o camarão certamente era do elenco da Pequena Sereia e eu comi o ator principal. Só isso pode explicar o fato de um pedaço de cuscuz custar 28 reais. Acho que não vou nem escovar os dentes, para fazer valer o prato até o final. (Brincadeira, já escovei...)

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Enquanto comia, olhava as pessoas a minha volta e pensava: eu não tenho classe. Não tenho. Não tenho berço, classe, finesse, nada. O único refinamento deve estar na minha mente doentia. Penso coisas que me agradam, consigo ser original escrevendo. Mas sou um zero à esquerda em matéria de trato. Não sei me vestir, não sei comer, não sei nada. Até o garçon parece mais fino que eu. Mas tudo bem, não me importo, já acostumei com a vida nas cavernas. Até mais tarde. Uga.

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Ah, sim, comprei um jogo de jantar, chá e café, lindo. Branco com filete em prata. Moderníssimo. Tudo geométrico. Os pratos são quase quadrados, uma linha maravilhosa. Me deu vontade de renovar minha casa. Mas olhando o preço, a vontade, logo passa!

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