3/14/2004

Falar e fazer - conjecturas de um domingo

Sexo é ótimo, duzentos milhões de casais fazem sexo diariamente no planeta. E, embora o diálogo seja sempre um fator essencial entre quaisquer pessoas que se relacionem, não existe a profissão de, digamos sex jocquei, que fica narrando as posições ou dando palpites na programa íntima dos praticantes.

Ninguém fica dizendo também, 'olha, na hora em que você virou e fez assim, eu achei que você poderia ter aproveitado e pegado ali'. A menos que seja um diretor de cinema pornô dirigindo uma cena de filme, que eu saiba, as pessoas simplesmente não descrevem em detalhes o que fazem na cama. Porque sexo é uma atividade e não um texto. É muito mais pra ser feita do que discutida.

No mesmo plano de intimidade deveriam estar coisas como comer e fazer atividade física. Devemos ter orientação médica, profissional, científica, em relação a sexo, alimentação, prática de exercícios.
É maravilhos ter uma nutricionista, um persona trainer, um terapeuta, mas também é uma relação íntima entre profissional e cliente.

Por isso, acho muito esquisito que as pessoas contem suas intimidades em todos os níveis. Que digam o remédio que tomam, as bombas, as idiotices que fazem para emagrecer, os jejuns. Por isso acho tão desagradável que as revistas só saibam falar sobre esses mesmos assunto. Revista feminina então é só plástica, dieta e como agarrar um homem. Dicas ridículas de como enlouquecer seu macho com sugestões de introdução das mais variadas coisas nos mais variados lugares, que vão desde como enfiar um CD de música romântica no cd player até como introduzir a língua na orelha do fulano.

Com a alimentação é a mesma coisa. Não se pode mais comer carne assada com batatinha, é tudo proteína com carboidrato. Não se pode mais passear, a gente sai para fazer caminhada.

De acordo com as revistas, a vida virou um único, interminável e insaciável compromisso na agenda. Dá vontade de pegar o pão e a água e voltar pra caverna, a flecha e o tacape e voltar pra oca, ou o camelo e as tâmaras e voltar pra tenda.

Não sei se há o que fazer, mas achei que melhor do que falar seria, escrever.

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