Por quê?
Por que o telefone sempre toca quando estamos no banheiro? Por que as americanas usam biquinis tão grandes? Por que as crianças entram na fase do por que? Por que?
A diferença entre por que, porque e por quê é fácil de entender. Difícil é resistir à tentação de querer entender o por quê de tudo, o tempo todo, para sempre.
Em muitos casos a compreensão destes por quês resultam em avanços científicos e tecnológicos, o que é muito bom. Mas, em geral, a ciência é feita mais de 'comos' do que de por quês. Os por quês são coisas da mente humana.
O caso mais clássico é o congestionamento, aquele que pára totalmente a rua, avenida ou estrada. A gente fica ali, parado e sofrendo, querendo saber por que parou, parou por quê??
Qual foi o maldito 'quê' que interrompeu nossos planos, nossa vida e nos fez parar assim?
Em geral, ligamos o rádio em busca de notícias, feitas pelos profissionais dos por quês, que explicam tudo para todo mundo.
O trânsito continua parado mas é totalmente diferente saber por quê você está ali.
A razão, o motivo, o por quê, dá uma perspectiva de futuro e assim, podemos tomar uma decisão. Parou porque tem um navio atravessado na pista e vai demorar dois anos para que ele seja retirado dali. Ah, bom, então, a gente larga o carro aqui e vai à pé pra casa. Parou porque tem dois cachorros trepando no meio da estrada e o povo parou pra ver. Já já eles desengatam e o trânsito flui normal. Certo, então, se é por isso, a gente vai até lá, dá uma espiadinha, volta, pega o carro e segue.
Há alguns dias, ou semanas, parei com o blog.
Por quê?
Por muitos motivos, mas, basicamente, por um só: o que sempre foi prazer, virou sofrimento. E se ninguém trabalha de graça para ficar sofrendo, imagine então pagar para ficar sofrendo.
O sofrimento é a dor teórica aplicada à prática. Acontece muito na ante-sala do dentista. Você sabe que a dor existe. Ela está lá. Mas é só quando chega a sua vez é que ela se materializa em sofrimento real.
Sempre usei o blog como espaço de expressão, divulgação, interação, diversão. A interatividade foi crescendo com a audiência até tomar corpo numa nova modalidade muito interessante: o ponto de encontro nos comentários dos posts, uma nova mídia dentro da mídia.
E, como toda mídia que ganha espaço, passa a ser disputada à tapa pelos sedentos de holofotes, passa a ser invadida anonimamente pelos que tem o prazer perverso de destruir, deixando pouco espaço para os que estão lá de forma legítima, ou seja, os que transformaram aquele espaço numa coisa boa.
Não me pergunte por quê, mas o mundo parece estar dividido em dois tipos de pessoas: as que sentem prazer e as que não permitem que as outras sintam.
As pessoas que sentem prazer, fazem. As que não sentem, destroem. As que sentem prazer, são felizes. As que não sentem, esforçam-se para impedir que alguém seja feliz na face da terra.
Essas criaturas são aquelas que, tendo desistido da felicidade por incapacidade ou falta de fé, dedicam toda sua existência e energia para garantir que ninguém mais seja feliz e tenha prazer na vida. São as guardiãs da infelicidade humana.
O mais louco é que essas pessoas são aqueles cidadãos insuspeitos que muitas vezes acreditamos como normais e temos até como modelo. É o pai de família bem sucedido, com linda mulher e filhos, mas que à noite, sai para catar travestis e ser penetrado pela ilusão, para exercer o que de fato é e não pode ser. É o empresário de nome pomposo que escreve lindos textos para jornais, sites e revistas e que escondido num nickname, solta a franga de macumba nos blogs, esculhambando tudo o que mais inveja. É a mulher recatada clássica, dos filmes e da literatura, que cuida do lar de dia e sai dando pra todo mundo à noite.
Por quês não resolvem. Você pode até entender por quê um padre é pedófilo mas isso não quer dizer que você vai aceitar o fato apenas porque compreendeu as razões. E nenhuma mãe vai mandar seu filho adolescente para um pediatra pedófilo depois de compreender que ele faz isso porque foi violentado quando era criança.
A gente entende por quê uma pessoa entra num blog com um pseudônimo para dizer o que não teria coragem de assinar com sua verdadeira identidade mas nem por isso vamos permitir que ela invada o espaço. Se fosse só uma questão de entender, você poderia pegar todos os moradores de rua e levar pra sua casa. Eles não têm casa, dê a sua. Eles não têm cama, deixe que durmam na sua. Pronto. Está resolvido? Não, não está.
Porque ninguém deixa a porta de casa aberta quando vai trabalhar. Ninguém vai para sua vida deixando para trás um caminho para ser invadido ou ofendido. E era o que eu estava vivendo. Todo dia, quando saía para minha vida, sabia que tinha deixado uma porta aberta. Uma entrada escancarada nos comentários, cada vez mais lidos, cada vez mais visitados, para todo tipo de maluco. Gente que entrava só para brigar com as outras pessoas, gente que entrava só para criar confusão, gente doida com vários nicks dialogando consigo mesma. Gente buscando apoio para suas opiniões, gente querendo atenção a qualquer preço, gente tentando se esconder para libertar seus demônios interiores.
E tudo isso, no meio de tanta gente decente querendo apenas, espaço e interação.
Por que fechei o blog? Porque não se dá facas para crianças. Porque não se dorme com as portas abertas. Porque quem ama cuida. Porque quem se respeita não permite a falta de respeito. E porque o tempo a tudo cura e a distância, organiza.
Depois de muitos dias sem entrar na Internet, longe de tudo, fica fácil avaliar a importância que as coisas de fato, têm.
Compreender não é saber o por quê, é situar-se diante dos fatos, mesmo sem modificá-los.
Provavelmente, vou resgatar meu prazer de escrever e continuar fazendo o blog, aos poucos, de outras formas. Mais lentas e suaves.
E, acredite, é melhor que eu me expresse escrevendo. Seria muito pior se eu resolvesse gravar um CD e fosse divulgar na mídia.Aí sim, ía ter gente me perseguindo, com razão.
Antes de mudar definitivamente de assunto, quero partilhar um aprendizado, ou melhor, uma confirmação, já que já haviam me contado isso. O anonimato na rede, é uma ilusão. Não existe.
Muitos dias depois, muitos reais depois, muito sofrimento depois, consegui saber os nomes, os endereços, os dados, das pessoas que, contadas nos dedos de uma mão, causaram esse sofrimento todo, pela intensidade de suas virulências. É um fato da epidemiologia. Os vírus são pequenos mas podem dizimar populações. Até serem controlados. E é por isso que precisa haver controle.
Pra ser mais precisa, na verdade, eu estava buscando apenas uma. E encontrei um clássico, pelo menos, baseado no que sei até agora.
É um nome pomposo, de homem, formado, com título de faculdade. Não sei sua idade, mas buscando seu nome na rede, encontrei vários comentários seus, em sites jornalísticos, em revistas de grande circulação. Parece ser bem adulto.
Não o conheço, não sei quem ele é.
Só sei que, enquanto ele assina seu nome completo em suas opiniões democráticas de forma pública, aqui, ele se escondia atrás de um nickname para ofender a mim, minha família, meus filhos.
Por quê?
Porque ele é assim. Porque seu DNA contém informações que o levam a fazer isso. Porque ele quis. Porque o blog tinha um sistema aberto de comentários que assim permitia que ele fizesse. Porque sim.
Mas porque a gente não pode fazer tudo na vida, a lei traz limitações.
E assim, contratei um escritório de advocacia, peritos, conseguimos quebrar o sigilo do provedor e agora, sei seu nome. Seu endereço. Seu telefone.
E agora?
Vou até lá tirar satisfações? Vou processá-lo para ressarcir-me dos meus gastos e dar uma lição neste senhor que acredita que pode anonimamente causar sofrimento a tanta gente que vinha aqui apenas buscar lazer e informação?
Procuro os outros também? Vou passar minha vida inteira perseguindo gente problemática que me elege como objeto de seu desejo/ódio/inveja/admiração?
Vou brigar com gente que um dia me ama e no outro me odeia? Vou impedir que sonhem comigo, que pensem em mim, que façam um altarzinho com minhas fotos?
Isso é vida? É prazer? É blog?
Não sei ainda.
Por enquanto, estou aqui, pensando, neste homem, neste senhor, que passou tanto tempo preso a mim, que lia meu blog diariamente, que deve estar lendo-o agora. Que talvez nem saiba que já sei quem ele é. Que talvez nem saiba porque me detesta em particular. Que talvez nem me deteste, que talvez me admire e me inveje às avessas. Que talvez quisesse ser eu, ter o que tenho, ser o que sou, fazer o que faço, vai saber.
Fato é que, tudo isso é muito pequeno diante do mundo e diante da vida.
Eu voto pela vida.
Eu voto pelo mundo.
Eu voto pelo blog.
Eu voto pela minha satisfação garantida. E meu dinheiro de volta.
Bom dia.
Não me pergunte por quê.
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