7/05/2003

Contorcionista
Por mais mambembe que fosse o circo, a assistente do mágico sempre me pareceu linda, embora, um pouco inútil. Mesmo sendo criança, e apreciando a mulher de maiô brilhante, não tem muita graça em crescer para segurar o chapéu, as flores ou o coelho.

No circo, as mulheres mais interessantes eram as trapezistas, mas mesmo assim, a graça estava mais no coletivo. Showoman mesmo, só a contorcionista.
A contorcionista sempre me pareceu o fetiche absoluto do universo masculino, a mulher não apenas comestível mas dobrável, portátil, pronta para ser escondida no porta-luvas do carro ou na pasta do executivo.

Fato é que, a flexibilidade é um sinônimo de juventude. Todo mundo já chupou o dedão do pé quando era bebê, era tão fácil. Hoje, muitos adultos ainda alcançam o dedão do pé na boca embora, felizmente, quase ninguém o chupe. Outros, engordam tanto que não conseguem nem ver os pés quando mais, alcançá-los.
Ser flexível é maravilhos, porque, em primeiro lugar, você precisa estar magro. Gordo não consegue nem cruzar as pernas. Magros cruzam as pernas e alguns, só por exibicionismo, ainda colocam o pé atrás da outra perna dando quase duas voltas.

Hoje, a iôga, e todas as modalidades esportivas, atléticas e filosóficas praticadas por Madonna, são moda. Madonna é uma deflagradora de moda. Se ela faz ioga, o mundo faz iôga. Se faz Pilatas, o mundo faz Pilates. Se estuda a cabala, lá vai o mundo estudar a cabala. Eu, por exemplo, já fiz ioga, pilates e já estudei cabala. Pelo menos uma das coisas deve ter sido por causa da Madonna, não existe tanta coincidência. Fato é que, Madonna, neste mesmo clip, exibicionista como sempre, mostra ao mundo que, dois filhos e quatro décadas depois, ela ainda faz um spacatte na barra de ballet como ninguém. Dá uma inveja desgraçada.

Também quero ser flexível. Por enquanto, minha medida é ser capaz de trepar numa mangueira (no sentido original!) que tenho lá na chácara. Enquanto eu conseguir subir na árvore, tá bom. Mas quero mais. Quero poder me dobrar, encostar a cabeça nos joelhos quando estiver em pé quero poder botar o pé atrás da nuca. Mas tem que ser da minha.

Para isso, sei que vou ter que fazer muito alongamento e aulas especializadas. Cadê tempo. O tempo, não quer ser tão flexível quanto eu... Mas eu quero sim. Quero ficar velha e virar uma boneca de pano, de trapo, de mola. Não quero virar boneca de porcelana, silicone e botox, toda travada, parada. Não quero ir pro museu de cera.

Pra começar, vou sair pra dar uma caminhada e esticar o corpo.
A gente nasce mole e quente e morre frio e duro. Portanto, ser quente e mole é ser vivo e ser rídigo e frio é estar morto.
Eu, hein, quero ficar bem vivinha, tenho muita coisa pela frente!
Dia 26 agora faço 46 anos. Parecia muito. Mas agora que Dercy completou 96, vejo que tenho mais 50 anos pela frente! Dá tempo! Até pra cruzar as pernas em lótus atrás da orelha!
Vambora!

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