10/11/2002

"o Brasil não está tão mal" , diz FHC

Sempre achei que FHC era nome de gás de spray que faz buraco na camada de ozônio. Hoje, porém, ele foi inaugurar o RodoAnel. Ou RodoRosca, para os íntimos. Na ocasião, cheio de razão, ele disse uma grande verdade, que "o Brasil não está tão mal".

Concordo. Primeiro porque ele vai embora. Segundo porque quem está mal mesmo é o povo. Os especuladores do Brasil vão muito bem.

Por outro lado, o fato de alguém dizer que o "Brasil não está TÃO MAL" , pode ser interpretado como a afirmação de que o Brasil está MAL.

Está mesmo, em muitos aspectos, por incontáveis razões. Uma delas acabou de chegar na minha caixa de emails. Um artigo bem escrito pelo Elio Gaspari (cujo link foi enviado num comment pela querida leitora Suzana) que explica, na visão dele, porque um ex-torneiro mecânico não pode tomar uma garrafa de Romanée-Conti em público.

Como qualquer outro ser humano, eu também comparo tudo com a minha experiência de vida mesmo sabendo que a vida da gente nem sempre serve como baliza para os outros 6 GIGA-GENTES que ocupam a superfície deste singelo planeta.

Mesmo assim, gostaria de contar uma breve história análoga ao fato mencionado pelo Gaspari. Uma amiga minha, a Yara Grottera sempre diz que gente que nasce pobre não aprende a fazer duas coisas, nadar e falar inglês. Por um desvio do destino eu vim de família muito simples mas faço bem as duas coisas, por uma peculiaridade: meu pai é militar reformado da aeronáutica.

Talvez isso me credenciasse a voar e não a nadar, mas explica a parte do inglês. Por ele sempre ter sido competente, muito mais do que ter uma patente, e ligado á área de eletrônica, viajou muito a serviço e eu sempre fui junto. Quando eu era bem pequena, em idade pré-escolar, morei um ano na costa leste dos EUA. Depois no Paraguay, o que explica porque odeio gente falsa. Depois, morei na periferia do Rio de Janeiro, onde minha mãe esqueceu de me colocar na escola. Aos 8 finalmente em são paulo e matriculada no 2o ano, fiquei um tempo no Brasil. Mas aos 13, fui morar no Canada, onde aprendi ingles como segunda lingua. Fui ainda algumas vezes para os EUA, e dei aula de ingles por mais de dez anos. E sempre praticando natação.

Um belo dia eu fui trabalhar na Jovem Pan. Tutinha, que é meu amigo, mas sempre foi o patrão, veio de uma família rica. É neto de um estádio, o Pacaembu. Com sua linhagem Amaral de Carvalho, nunca se conformou com o fato de que ele, rico, não falava inglês direito e eu, funcionária de origem pobre, falasse inglês sem sotaque.

Até o dia em que eu disse a ele quer nadava bem. Aí foi demais. Duvidando que isso pudesse ser possível, me levou para uma escola de natação perto da rádio, me fez botar maiô e pular na raia ao lado dele, só pra tirar um racha e provar que eu era capaz. Eu era.

Acho que o fato de gente simples ter talento, de ter gente pobre e bonita, de existir gente rica e incompetente e, todas as outras combinações possíveis, é isso, um fato. E o Brasil vai mal por isso também. Porque não dá oportunidades iguais para que as pessoas desenvolvam seus talentos. Porque dá privilégios a pessoas que não tem talento mas tem influência . E assim vai.

Não entendo nada de política e muito pouco de economia. Mas me deu uma vontade louca de ir nadar mais tarde, tomar um Romanée-Conti and take a walk on the wild side....

Touché.

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