O gancho está nú.
Para fazer fotos 'sensuais e artísticas', como as moças que posam nuas gostam de definir seu trabalho, basta ter sido qualquer coisa em qualquer ocasião. Ex-modelo e atriz, ex-esposa de jogador de futebol, prima do sócio do tio em terceiro grau do ex-fulano de tal e coisa.
Hoje, deparo-me na capa do UOL com uma chamada para a revista Sexy com a seguinte manchete: "Assista ao making of com Catia Paganote, a ex-paquita Miúxa".
Devo ser muito mal informada porque nunca me ocorreu que as pessoas, de fato, soubessem e decorassem os nomes das paquitas.
Na primeira fase, quando surgiram, vá lá. Era novidade. Mas as outras?
Bom, nem sei de que fase é a madame Paganote, nem quero falar mal da moça sem conhecê-la.
Só não sei quem foi que inventou a modelo-nua-jornalística, que precisa sempre de...um gancho. Um gancho que justifique sua presença, como se ela não estivesse lá apenas por seu corpinho modelado e por sua vontade de mostrá-lo ao mundo, ambos merecedores de todo apoio democrático popular, masculino e feminino. É lícito e legal, não tem nada de errado.
O que é louco é essa hipocrisia de não assumir por que elas estão lá e sempre mascarar o nú, que em pleno século XXI ainda é motivo de interjeições e exclamações, de interesse de consumo, de discussão em pautas de programas de tv de segunda linha.
Desde pequena, cresci com revistas alemãs cheias de mulheres de peito de fora, cujas edições velhas os parentes que podiam comprar delegavam para meus avós. Eu não tinha consciencia mas achava que era normal, porque era a minha avó que lia aquelas revistas, como a Stern. E era mesmo. Eram mulhers nas prais da europa, fazendo topless, tudo sem gancho jornalístico.
Mas para os latinos, que são ao mesmo tempo moralistas e libidinosos, todo mundo precisa de uma licença, de uma permissão, um documento, uma explicação, qualquer coisa que justifique seu prazer, seja ele qual for.
Aqui, todo título ou ex-título vale como desculpa para ter a liberdade de ser o que é e fazer o que quiser.