1/27/2003

Bom dia.
O bom dia não acorda pronto. Temos que levantar da cama, abdicar da horizontalidade preguiçosa
sob o calor aninhado das cobertas e construir todas as horas que se seguem da melhor forma possível.
Hoje, numa típica segunda feira para abandonar os projetos do fim de semana, resolvi contrariar a falta
de vontade e acordei cedo. Calcei um tenis, o pior moleton, a camiseta mais desengonçada e, dentro
das calças de lycra saí para dar uma volta de meia hora pelo bairro.
Ao longo deste pequeno período de tempo a audiência da antes praça, agora Parque, vai crescendo.
Não levei walkman para poder ouvir e ver melhor. Mas deveria, porque um bom estímulo auditivo teria distraído
alguns odores forte e ruins, como um pote com abacaxi avinagrado jogado no chão que contaminava uma das
quatro esquinas do quarteirão.
Ainda que breve , outra cena gritava na rua. Dois donos de uma pequena farmácia de manipulação tentavam,
com a humanidade cabível e uma gentileza que excedia o constrangimento, acordar um mendigo que
dormia não apenas em frente à porta metálica que protegia o estabelecimento mas especificamente
sobre o cadeado e a fechadura que lacravam a porta. Um homem triste com um cachorrinho no colo,
senhores e senhoras fazendo esporte, gente nos pontos de ônibus começando, pensativos, a semana.
De volta a casa, banhada e pronta para o café, sinto que só há mesmo uma forma no mundo de não
agredir os outros, não se incomodar com os outros e não gastar tempo fazendo o mal, desejando o mal
ou atrapalhando ninguém: cuidando da própria vida.
Bom dia, até mais tarde, depois da reunião.
Enquanto isso, acompanhe
as notícias por um bom plantão.

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