O futuro, que não pára de chegar a todo momento, será dedicado a prevenção, ao contra-ataque, ao bloqueio, à correção. Vamos usar boa parte do futuro para corrigir os erros do presente e alterar alguns problemas que sempre existiram no passado.
Acho que todos os futuros sempre foram assim, mas o futuro de agora, é muito mais.
Na saúde, além da busca da cura, que sempre existiu, duas outras coisas já estão acontecendo. A primeira é enquadrar quase tudo como doença. Ser gordo é doença, ser baixo é doença, ser feio é doença, ser velho, é doença. O mundo fixou um padrão e tudo o que sai dele, é doença e a gente tem que combater. Minha pia do banheiro sabe do que estou falando, agora que mal tenho espaço para colocar o perfume, com tantos cremes para anti-idade. Idade é doença também. A segunda coisa é buscar todas as formas de impedir que a gente fique feio, velho e gordo. Ontem mesmo comentamos aqui a matéria do Jornal Nacional que fala de uma possível taxa para empresas de alimentos que vendem muita gordura para os consumidores. Bacon vai ser um palavrão pior do que xingar a mãe.
Por enquanto, no quesito saúde, o mundo continua tentando resolver só o que ele vê, ou seja, só os problemas estéticos. A eternamente polêmica Madonna, que conquistou o direito de falar o que bem entende porque é rica, famosa e ainda gostosinha, mostra cenas em seu novo clip em que ela mesma se injeta botox.
Li um artigo em algum lugar outro dia (veja a precisão jornalística...) dizendo que o próximo boom da plástica serão as cirurgias domésticas. Não do tipo delivery, com seu personal surgeon (o que seria uma idéia interessante em termos de marketing...) mas a self-made-surgery, exatamente como Madonna mostra. Na pia, você terá, além dos cremes, sua seringa descartável, seu botox e, voilà. Não saia de casa sem ele.
Tudo hoje é chamado de correção, não apenas porque algo ficou torto ou mudou de cor, mas porque todos querem ter a imagem 'sonhada'. Não é só uma questão de tingir os cabelos que ficam brancos ou clarear os dentes que ficam amarelos, mas ter o cabelo da cor que se quer, esculpir o corpo para ficar como se sonha, colocar os peitos que o mercado exige. (Ontem, fiquei pensando na extrema necessidade que a atividade de travesti comercial exige em relação aos peitos. Evidente, o travesti que trabalha na rua, quando vê o cliente de longe chegando em seu carro, logo pára para abordá-lo e oferecer o serviço. E qual a posição deste contato? Não é como num guichê, num balcão de vendas, num telemarketing à distância, não. O travesti abaixa e debruça-se sobre a janela aberta do carro e assim, coloca, em primeiro plano, como um cartão de visitas, os seios. Mesmo porquê é só isto que ele tem de mulher para oferecer, o disfarce, a embalagem do produto. ) Esta é a indústria que mais cresce, a de realização dos desejos estéticos.
O futuro do anti-gordura, anti-idade, anti-queda-capilar, anti-disfunção-erétil, anti-frigidez, anti-esterilidade, tem seu braço tecnológico, aquele do mundo cyber. Sai na frente quem tem os melhores softwares contra qualquer tipo de câncer como spam, e vírus que ataca o HD. Anti-spam, anti-vírus, anti-junk em geral, já é o sucesso da indústria da informática há muito tempo. E, cada vez mais, será. Também os filtros anti-pornografia, anti-pedofilia, anti-encheçaõ de saco, já dominam o mercado.
Na minha estreita visão, daqui do pequeno ângulo onde existo, vejo este futuro um pouco superficial. Porque só combate o que é estético e o que é material. Precisamos de um outro futuro. Um futuro que veja mais o lado interior do ser humano. Um futuro que faça campanhas anti-drogas pensando na razão que leva o usuário a usar drogas e não apenas punindo o consumidor e prendendo peixes-pequenos do mercado corretor, sem nunca fazer nada contra o mercado produtor. Ouvi no rádio que a Colômbia é responsável por 80% da produção da cocaína do mundo. Duro é encontrar 80% das pessoas poderosas que queiram, de fato, acabar com o tráfico ilegal de cocaína.
Acho também que, enquanto criam métodos de anti-spam, anti-anonimato, anti-invasão, deveriam entender por quê as pessoas agem assim. Criar em todas as escolas, empresas, departamentos de atendimento psicológico que tentasse compreender os meandros da mente humana. Não adianta proibir sem resolver o problema emissor.
Uma coisa não impede a outra. A gente tem que usar todos os mecanismos para não ser invadido em todos os sentidos, mas temos que garantir um futuro que resolva os problemas. Tem que botar fechadura na porta, câmera na portaria do prédio, segurança na rua, polícia no quarteirão mas temos que ter assistentes sociais, psicólogos, políticos, recuperando menores, resolvendo as diferenças sociais, distribuindo melhor a renda. É tudo holístico, tem que resolver as coisas como um todo.
E não dá, simplesmente não dá, para fazer um futuro anti-tudo, sem entender o ser humano. Não dá pra instalar todos os anti-coisas no seu PC sem que alguém se interesse em estudar o perfil 'internauta' de cada um de nós.
Internauta é um novo aspecto da nossa personalidade que o coitado do Freud, que aliás, era chegado numa cocaína, não teve a chance de experimentar. Essa coisa de id, ego, superego, está mais para ig, uol e superig, terra e speedy. Aliás, li na folha que Freud usou termos banais e corriqueiros, em alemão, como eu, super eu, e que o tradutor é que botou a firula de id, ego e etc. Ficou a firula.
Algo diferente acontece com as pessoas quando entram na rede, como se fosse um novo portal de expressão, ou melhor, de existência.
É isso que a gente precisa estudar, entender, descobrir , para depois, alterar.
Ou isso, ou o futuro vai ser um mar de cadeados, jaulas, escudos, antídotos, taxas e armas, para que a gente se proteja de todos, todos os nossos mais diferentes erros do presente e do passado, especialmente, o de anti-gamente.
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