6/06/2003

Jantada, parabenizada e encantada

Antes de mais tudo, obrigada, obrigada, obrigada. Por todos os parabéns que recebi hoje, aniversário de um ano do Querido Leitor.
Embora, nosso relacionamento aqui seja uma coisa livre e sem obrigações. O compromisso existe, mas é do coração, não da lei.

Assim, escrevo este post jantada (acabei de comer, em casa) e parabenizada. Falta só explicar o motivo do meu encantamento.

Pode ser loucura, demência, insanidade ou apenas um apreço pela observação, mas costumo tirar conclusões gerais sobre o andamento do mundo. Não do mundo inteiro, o que dá voltas, mas do pequeno mundo à minha volta. O mundo físico, o sentimental, o mundo de notícias, de internautas, de pessoas e de pautas (só pra rimar, forcei), de assuntos. O mundo com o qual temos contato, você sabe qual é. Você faz parte dele...!

Pois tenho percebido que este mundo vai passar por um processo de mudança. Assim como há dez anos não tínhamos a tecnologia de hoje, assim como há vinte não havia essa imensa indústria do corpo, assim como há trinta só usava adoçante quem era diabético. O mundo muda, todos sabemos disso. E é possível perceber quando essas ondas começam. É como olhar para o mar e ver sua superfície escrespando e formando as ondas em si. Se você olhar pras pessoas coletivamente, juntar informações de uma e de outra e de outra criatura você verá esse mar de gente encrespando para formar uma onda nova. (onda nova é nome de rádio FM de interior, eu já ouvi)

Esta onda diz respeito ao ... prazer.

O prazer andou sumido. Parece mentira, mas a indústria do sexo não é exatamente uma produtora de prazer verdadeiro. Ao contrário, é uma indústria de ilusões, mentiras ou no máximo, de prazeres perversos. E a debandada do prazer foi sentida em vários planos, a começar com o prazer da comida.

É claro que não é pra sair engolindo a mesa e devorando o restaurante, do manobrista ao garçon, mas a ditadura da magreza certamente roubou de muita gente não só a sanidade e o equilíbrio mas o prazer do alimento. Não é pecado sentir prazer nas papilas gustativas, nunca ninguém morreu de mousse maracujá ou chocolate, exceto, talvez, os que engoliram a colherinha.

"ah'", dirão alguns "mas muita gente abriu mão dos prazeres da mesa para ter um corpo mais bonito e assim desfrutar mais dos prazeres da cama...". Errado. A grande maioria das pessoas que cultuam o corpo não tem uma vida sexual de prazer verdadeiro. Basta ver o número de mulheres que fingem orgasmos e número de homens que tem disfunção erétil. É muita gente sem tesão, trocando o prazer em parceria pelo vício solitário da masturbação. As pessoas acabam construindo egos gigantescos, engaiolados em medidas padronizadas, contornos cirurgicamente moldados, que não sentem mais prazer em nenhuma relação que a não a narcísica vida com vista para o espelho. TAmbém isso está mudando.

As pessoas voltam aos poucos a perceber que é no equilíbrio que está a felicidade.
Hoje por exemplo, fiquei estarrecida ao ouvir o Dr. Turíbo Leite, numa rádio, dizendo que o correto é beber água quando a gente sente sede. Comentei com meu filho:

- Aonde nós chegamos... um especialista em medicina esportiva tendo que ir à midia dizer ao vivo que não se deve nem ficar sem água para não sofrer de desidratação e nem se encher com tonéis de água que diluem o sal no seu corpo e que o correto é ... beber água quando se tem sede!

Sempre fui otimista mas hoje, também a nossa dermatologista comentou que suas pacientes estão voltando para a sanidade e relatando esse momento de 'soltar as amarras'. Ela comentou que Ana Maria Braga abriu o programa dizendo que é importante para a mulher ter um amante, alguém para amar. Contou que uma paciente abriu mão de sua paranóia por emagrecer e foi até uma doceria comer um folhado com a alegria de quem tem saúde.

Se o mundo estiver mesmo voltando para os prazeres simples, então, estaremos todos salvos.
É essa normalidade, esse jeito humano de errar, de fugir às regras, que talvez nos liberte.
Ou isso ou viraremos todos programas de software, como em Matrix, onde tudo é simulado.

E é assim, com olhos que ficam observando o mundo melhorar aos poucos, voltando seus olhos um palmo além do próprio umbigo que o Querido Leitor entra em seu.. ano II.






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