Bookcrossing, Flash Mob e Tantras Outras Coisas...
Alegria de internauta é ver seus assuntos marginais na mídia oficial. Hoje, toda a rede está contente, com os jornais e rádios discutindo o 'atentado poético' proposto para amanhã, com o abandono dos livros à la Bookcrossing.
Porém, como é típico da rede, o paraíso do 'quem conta um conto aumenta um ponto',foi adaptado para'quem repassa um spam coloca um tchan", criando um monstro que se alimenta dos emails passados em forward e que se hospeda em blogs para pernoitar.
Foi o caso do famoso spam do Tantra Totem da Sorte do Nepal, um frankenteins de vários textos costurados, incluindo um totem feito em ascii-arte, um texto traduzido com ações edificantes e instruções para a vida, uma assinatura falsa de alguma entidade de credibilidade como o Dalai Lama, tudo embrulhado com um monte de predições de sorte, uma lenda do Nepal e um pedido para passar a porcaria adiante.
Assim também aconteceu com esta proposta. Misturaram bookcrossing, que já existia antes do atentado às torres gêmeas, com a data de 11 de setembro, com o título de "atentato ou terrorismo poético", embora os livros não precisem ser de poesia, e embalaram tudo isso com a moda dos flash mobs dizendo que este seria um flash mob do bem, ou literário ou coisa que o valha. É o próprio Tantra Totem do Nepal, com atitude literária.
Excetuando-se pelos outros ingredientes, uma coisa é certa: bookcrossing não tem nada a ver com flash mob, embora muita gente ache que os dois sejam 'besteiras infantis de quem não tem o que fazer'. (aliás, nunca entendi porque essa mentalidade judaico-cristã critica tanto a falta de ter o que fazer como um pecado mortal. sou muito mais a filosofia dos caymmi)
Estive numa Flash Mob (participei da organização de uma) e libertei um livro e comparando meus sentimentos sei que uma coisa é bem diferente da outra.
A Flash Mob só me trouxe encheção de saco, irritação, nervoso, brigas. Muita punhetação para decidir, muito palpite contrário, muita briga de ego, muitas acusações, muita gente querendo mídia, querendo holofote e querendo um atalho para o sucesso instantâneo sob as luzes efêmeras da televisão. Ir lá, participar, tirar fotos, foi divertido. Mas como a própria proposta foi uma satisfação que durou um instante. Porque antes e depois, foi só sofrimento. Jamais faria ou participaria de uma outra.
Já o sentimento de ter deixado o livro sobre o banco, vê-lo desaparecer, ver um desconhecido sentado apreciando a leitura, teve outro sabor. Muito bom, inspirador, desde a decisão do livro, ao lugar, à forma de lidar com a situação. Um gesto igualmente simplório e, talvez, infantil mesmo, ou 'coisa de escoteiro' como disse o azedíssimo Cony hoje, no Liberdade de Expressão, com Heródoto Barbeiro e o gentil Artur Xexéo, sempre leve e apaziguador.
Chamar o bookcrossing de flash mob, sendo que ele não envolve nenhuma mob, já que é individual e de flash, já que não é um gesto que envolva tempo ou velocidade, é como chamar Feijoada de Fast Food e chamar Bistrô de Drive-Through.
Ou acreditar que passando para frente uma bobagem de spam sua vida vai mudar.
Para encerrar, eu diria que só tem uma coisa pior que o spam em si: é o texto que a pessoa adiciona como 'desculpa' para mandar a bobagem para você, que em geral é assim:
"não sei se funciona mas pelo sim, pelo não, resolvei mandar".
Nesse quesito, estou com a cera quente da depilação: pelo, não!
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