4/02/2003

50 km em um dia
Acabei de ver na capa do UOL que os Americanos estão a 30 km de Bagdá. Eles devem estar indo de joelhos, porque levaram um dia inteiro para percorrer 50 quilometros.
Enquanto as tropas avançavam em direção à cidade, eu rodei São Paulo. Primeiro, fui para a produtora e de lá, para o bairro da Liberdade, um bairro japonês aqui da cidade.
Começou que o bairro inteiro estava em reforma. Calçadas esburacadas, caminhões fazendo barulho.
A primeira coisa que eu precisava gravar era uma 'cabeça' em frente a uma banca de revista. Primeiro, a produtora teve que gentilmente pedir para uma betoneira desligar o motor durante a gravação. Depois, tivemos que pedir para o moço da banca liberar a bagaça. Em seguida, tourear o povo que passava diante da câmera para desviar o caminho. Finalmente, depois de tudo, conseguimos gravar o primeiro take.
Depois, deslocamos todo o equipamento para um viaduto para fazer a abertura da matéria com a decoração japonesa de fundo. O jardim onde íamos gravar, que era aberto, hoje, está cercado e trancado.
Meia hora para convencer o rapaz de que não iríamos fazer nenhum mal às carpas ou ao pinheirinho. Ele, que regava os peixes com a mangueira, disse que estava arrumando tudo para ficar bonito, mas era pra Marta Suplicy visitar. Me deu vontade de pintar o cabelo de loiro e dizer com meu mau humor de 4a. feira, que EU era a Marta Suplicy.
Ele acabou deixando. O Câmera entrou para fazer inserts, imagens para serem usadas na edição, mas não eu nem a entrevistada. Depois das carpas, fomos para o viaduto. Nossa missão, encontrar alguém que soubesse falar e ler japonês para traduzir um catálogo da Avon nesta língua.
O primeiro rapaz que achamos era professor de japonês. E era brasileiro.
Com um 'sim' já produzido, comecei então a coletar vários 'nãos' ao perguntar 'você sabe ler japonês?'.
Gravamos a abertura da matéria, os 'nãos' e o rapaz.
Em seguida, produzimos uma moça para traduzir outra parte do mesmo catálogo, fizemso a passagem para a segunda locação e as imagens para o clip.
A viatura nos pegou, enquanto Míriam, nossa maquiadora, servia horríveis ervilhas com raiz forte para a equipe.
Fala sério: eu estava em jejum e o cardápio de biscoito de arroz salgado com mel, ervilhas secas com raiz forte e de sobremesa, bala de melão, é de acabar com qualquer um.
Pegamos um trânsito infernal, da liberdade para o bairro de Moema.
Horas depois, estávamos na 2a. locação, o restaurante alemão Windhuk, onde o dono, o Sr. Francisco, seria nosso traduzir do catálogo em alemão.
Muito gentil e falante, Francisco serviu salsichão, canapés, água. Me deu um livro de presente, contou toda a história da imigração de sua família. Enquanto isso preparávamos a luz e o set.
Demoramos horas. O bairro de Moema, é rota de aviões, que passam em baixa altitude, já próximos ao aeroporto. Era falar uma frase e passar um avião. Tínhamos que dividir os diálogos em frases que coubessem na escala de horários da TAM, Varig e GOL.
Já era quase fim de tarde quando finalmente conseguimos gravar.
Some-se a isso o fato de que os entrevistados, em geral, não são experts em televisão e ficam nervosos, erram, voltam, pedem para fazer de novo, etc.
Francisco foi muito atencioso e fez a matéria com uma roupa típica da Bavária.
Fomos para a 3a. locação. Era noite, e São Paulo era um megacongestionamento só.
Ao chegarmos no restaurante italiano, onde o dono deveria estar para traduzir o folheto Avon em italiano...zás. A sorte nos traiu. Ele teve que sair para um compromisso e só voltaria depois das 8 da noite.
Alerta geral. HOuston, we have a problem.
Consegui substituí-lo por um amigo, aliado e colaborador da Synapsys, que, em 20 minutos, chegou pronto para o trabalho.
Foi genial. Fizemos a luz, com uma gelatina azul na entrada do restaurante, dando já o clima noturno, uma passagem para a cantina e, finalmente, a entrevista com ela.
Encerramos a matéria sob olhares de dezenas de pessoas jantando ou esperando vaga, com mais uma tradução, de Elaine, que fala fluentemente o espanhol.
Mais de nove da noite, guardamos o equipamento, e voltamos para a produtora. Tive que trocar de roupa e vir para casa. No caminho, más notícias: geladeira vazia.
Lá fui eu para o supermercado, com maquiagem de tv.
E a grande recompensa.
A moça do caixa do supermercado, Maria, olhou pra mim e disse:
- Eu gostei muito do livro Maturidade Revista. Eu ganho pouco, gosto de ler, mas não tenho dinheiro pra comprar o livro. Então eu vou na livraria e fico lendo lá. O livro é ótimo. Agora, só falta eu comprá-lo pra acabar de ler.
Fiquei sensibilizada e emocionada. Vou levar o livro de presente para ela.
Amanhã mesmo.

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