
Uma nova brincadeira está fazendo do tradicional livro impresso, sempre ameaçado pela tecnologia, um objeto de desejo dos internautas.
Chamada de "bookcrossing" ("cruzamento de livros"), a atividade está sendo promovida por um site norte-americano e consiste em incentivar pessoas a abandonar livros em locais públicos para que outras pessoas os encontrem. A proposta é que, depois de terem sido lidos, eles voltem a ser deixados para que outras pessoas dêem continuidade ao jogo.
Criado em quatro semanas de 2001, o www.bookcrossing.com administra um banco de dados com os passos das obras abandonadas e os comentários dos leitores. Antes de libertar um volume, o "bookcrosser" deve registrá-lo no site gratuitamente e dar as coordenadas de onde o "esquecerá", devidamente etiquetado com os procedimentos que a pessoa que o encontrar deverá seguir.
O empreendimento, que se inspirou no site www.phototag.com -no qual são publicadas as imagens feitas por anônimos que encontram máquinas fotográficas deixadas-, enfrenta hoje o problema do próprio crescimento, com uma média de 300 membros novos por dia. "O site cresceu mais rápido do que esperávamos", diz seu criador e editor, o americano Ron Hornbaker, 37, de seu escritório na cidade de Kansas, nos EUA.
Até o fechamento desta edição estavam registrados 539.353 livros e 157.804 membros, distribuídos por 130 países diferentes, cerca de 68% dos quais nos EUA, 8% no Canadá e 7% na Itália. No Brasil, estavam cadastrados 214 membros, sendo 68 de São Paulo, 45 do Rio, 16 de Minas Gerais e os demais espalhados do Amazonas ao Rio Grande do Sul.
Hornbaker reconhece que o problema linguístico limita a ação de participantes que não conhecem o inglês, o que pode explicar em parte a pequena participação de brasileiros. "Nosso próximo desafio, depois do controle do número de membros, é a globalização linguística", diz o editor, que confessa, no entanto, não acompanhar a versão em espanhol de seu site, cujo link está escondido entre os ícones de lojas de livros virtuais, que sustentam o empreendimento por meio de comissões. Para ele, "o mais importante é transformar o mundo em uma comunidade que aproxime todos os leitores".
Os "bookcrossers" brasileiros vêm se adaptando para conseguir "divulgar o movimento", como afirma o participante de codinome Miguilim, de Indaiatuba (SP), que traduziu para o português as etiquetas que são fixadas nas capas dos livros. Spiegel, de Porto Alegre (RS), por sua vez, fez um glossário em português dos termos do site e é o líder na liberação de livros no Brasil: 34 em oito meses. "Eu gosto de pensar que tornei o dia de alguém mais interessante colocando não só um livro em seu caminho, mas a idéia de compartilhar algo, de fazer parte da viagem de um livro", diz.
Entre os títulos viajantes no país, o que mais acumula milhas é a versão em inglês de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de Jorge Amado. Comprado em Nova York, a obra chegou ao Brasil com Oh-jeez-tower, de Iowa (EUA), que a ganhou de presente às vésperas de viajar para Goiânia (GO). Levado ao Rio, o "bookcrosser" libertou o volume na Confeitaria Colombo, onde um santista o encontrou: "O livro me chamou atenção por estar num lugar movimentado, num vaso de flores e com um papel na capa onde se lia "leve-me, livro grátis'", conta Viajantefelipe. "Dos 26 livros que já liberei, só três foram resgatados", diz Oh-jeez-tower.
Apenas entre 20% a 30% dos livros encontrados são registrados. "Já houve casos de livros que apareceram de novo um ano depois de libertados", diz Spiegel.
A Folha abandonou em São Paulo três livros. Todos desapareceram. (ROGÉRIO EDUARDO ALVES)
São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2003
ROGÉRIO EDUARDO ALVES DA REPORTAGEM LOCAL (folha de são paulo)
COMENTÁRIO-Abandonar um livro é fácil. Difícil é abandonar o ego e atribuir a idéia a quem de fato a criou. Que bom que existe o jornalismo investigativo.
OUTRA DÚVIDA - De manhã, a mesma matéria dizia que a autoria da idéia era da escritora Joyce, do REBRA. Agora, não diz mais. Acho que re-editaram a matéria. Não. Tem dois links com as mesmas fotos. Num entendi nada.
Aqui tem um, aqui tem outro. Ambos fechados pra assinantes UOL.
Veja a matéria de agosto deste ano da BBC sobre este fenômeno.
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