12/29/2003

Atire a primeira pedra... de gelo!
Não sei mexer no controle remoto da tv. Não porque eu seja burra mas porque não tem lógica. O enter não entra, channel não muda o canal, o volume não tem nada a ver com o áudio. E para mudar da tv convencional para a direct tv tem que apertar alguma coisa que eu não sei bem qual é.

Assim, enquanto eu lavava a louça, limpava a pia, a cozinha e o fogão, além de servir sorvete com confete, fiquei acompanhando um programa chamado A Hora da Verdade. O texto chegava a ser cômico, de tão primário, uma coleção de clichês de fazer inveja ao Homem Chavão e seus companheiros.
A narração era feita por uma garota fanha porém esforçada.

O video durava horas. A história era a coisa mais provinciana do mundo.
A única coisa que justificaria alguém receber um salário para escrever aquilo é outro lugar-comum, aquele que diz que, enfim, pelo menos o autor não está roubando nem matando. Mais ou menos, porque o que vi e ouvi matou milhares de neurônios que até então me eram caros e saudáveis e o tempo de minha tardia juventude que me foi roubado não voltará mais.

Mas quem sou eu pra criticar um texto podre como este se eu mesma já fui mal paga pra fazer coisas tão ruins ou até piores? Por dinheiro, para sobreviver, já escrevi texto de apostilas de parapsicologia de um picareta que encontrei pelo caminho nos anos 80, fiz cartas de ouvintes fictícios para rádios AM, letras de música de gosto duvidoso e, apogeu do fundo do poço, fiz uma letra de música para o filho do Tiririca, encomendada por seu empresário. Claro, eu poderia dizer que fiz tudo com dignidade, mas certamente este tipo de trabalho me colocou como figurante naquele filme de elenco record, "Teu passado te condena".

Como D'us existe e é pai, até esta página arrancada da minha autobiografia não-autorizada teve um final feliz. A letra da música era para tentar uma reconciliação do menino com seu pai, que não falava com ele e nem permitia que usasse seu nome. Depois de semanas de sofrimento geral no estúdio (o garoto não tem voz nenhuma para cantar), a música foi gravada e interpretada no dia dos pais, ao vivo, no programa do Faustão, anos atrás. Neste dia, eu estava na casa do meu pai e avisei que a música era minha. Ele ficou todo orgulhoso. Pensando bem, valeu. Atire a primeira pedra quem nunca produziu um trabalho medíocre. De preferência, uma pedra de gelo, no meu copo que o calor aqui na praia, tá que tá.

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