12/30/2003

The Summer IS Tragic!



De Barra do Una, no litoral norte do estado de são paulo, até o Guarujá, viaja-se tranquilamente pela Rio-Santos. Tranquilamenta em dias normais mas não num 30 de dezembro. Mesmo assim, fomos.
Saímos com uma filha de casa, pegamos um filho na estrada e seguimos até o Guarujá driblando todos os péssimos motoristas, ou seja, basicamente todos os que estão fora do carro onde estamos.
Contando com a solidariedade do pessoal que dá sinal de luz pra avisar que há policiais por perto, fomos ultrapassando sempre que possível até chegar à entrada do Guarujá.

Lá, ninguém não apenas não consegue ultrapassar ninguém como mal consegue se mover. O termo exato que descreve a situação do Guarujá para o Reveillon é un-be-fucking-lievable.

Fomos até a praia do tombo, visitar meus pais, que acordaram às cinco da manhã e, claro, ao meio dia, estavam com fome. Enquanto eles saíram para almoçar, deixamos o carro na rua e fomos à pé até outra praia, Pitangueiras, visitar minha sogra.

A caminhada foi longa porém agradável já que o dia estava semi-nublado.

A visão da praia é assustadora, como mostram sempre as primeiras páginas dos jornais paulistas. Clique na foto para ampliar a desgraça. O que se vê é uma faixa de céu, uma faixa de arranha-céus, uma faixa de guarda-sóis, uma faixa de carne moída, uma faixa de mar e praticamente nada de areia. Diz a lenda que as pessoas andam arrastando os chinelos pois, se levantarem um pé do chão provavelmente não encontrarão lugar para colocá-lo de volta.

Chegamos no apartamento da minha sogra que havia feito tudo para preparar nosso almoço até que...acabou o gás. E, claro, nessa época,não se acha um bujão de gás com essa facilidade. E assim, tentamos consolá-la mas preparados para sair de lá sem almoçar mesmo.

Liguei no celular do meu pai e, para meu choque, quando perguntei se ele ainda estava no restaurante ele me disse que estava no pronto-socorro.

Meu pai saiu com minha mãe (ela tem 70, ele 75) caminhando até um restaurante simples ali no Tombo. No caminho, tropeçou numa pedra e caiu. Feriu-se muito. Ralou ambos os braços, as mãos, a perna, o ombro e só não bateu a cabeça no poste por um reflexo. Ficou caído no chão, sangrando muito e minha mãe não teve forças para levantá-lo.

Meu pai disse que graças a Deus, ainda existe muita gente boa nesse mundo. Um casal, que ía para a praia, levantou meu pai, levou-o à farmácia e acompanhou a limpeza dos ferimentos. O farmecêutico disse que era caso pra pronto socorro.
O homem então, foi até sua casa, pegou o carro, levou meu pai para o pronto socorro, esperou que ele fosse medicado e levou-o de volta para casa.

O enfermeiro do pronto-socorro, vendo a situação do meu pai, todo enfaixado, compreendeu que ele não terá condições de trocar os curativos e disse que, a partir de amanhã, ele irá até meu pai para trocar as bandagens.

Acalmamos minha mãe, tranquilizamos meu pai e voltamos para Barra do Una, com a certeza de que tudo está sob controle. E, claro, pensando no que é a vida e no que representa envelhecer.

Assim que chegamos, fomos direto para o mar, lavar a alma. O mar estava maravilhoso, cheio de ondas altas e leves. Do mar, fomos tirar o sal no rio, gelado e revigorante.

Agora, que os sustos já passaram, que já comemos alguma coisa, que já estamos limpos e respirando mais fundo, só resta esperar que o ano acabe logo e dê chance a um ano novo. E que, a cada dia, a gente seja capaz de amar, de ajudar, de ser solidário com o próximo, de perdoar os erros dos outros, de perdoar os nossos próprios erros, de rir de si mesmo, de dividir os sentimentos com os outros. Porque a vida é tão frágil quanto breve e daqui, não levaremos nada. Mas enquanto aqui estivermos é sempre melhor saber que por onde passamos deixamos um rastro de afeto, alegria, alívio e compreensão.




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